Mensagem da Obreira Diaconal Márcia
RELATÓRIO SEMESTRAL DO GAS (GRUPO DE AÇÃO SOCIAL) 

FUNDO DE PEQUENOS PROJETOS - IECLB NOVEMBRO 96

"Vejo uma trilha clara pro Brasil, apesar da dor."(sic) Caetano Veloso

A partir de 03 de março de 1996 o GAS intensificou suas atividades diaconais junto a pessoas empobrecidas do morro Santa Vitória, em Florianópolis/SC. A trilha começou a ser percorrida e, neste caminhar, percebe-se o quanto ainda há por fazer. A situação das pessoas aponta muitas necessidades, pois afinal, as pessoas sofrem a influência da política neoliberal bem concretamente em suas vidas. As muitas necessidades como: moradia indigna, baixo salário, falta de trabalho e qualificação profissional, saúde precária, pouco acesso à educação... causam outras dificuldades nos indivíduos, levando-os a ter um desprazer pela vida. A falta de amor próprio aliada à queixa, impedem as pessoas de exercerem a sua cidadania e de entenderem o evangelho como graça de Deus. Este quadro é marcado por muita dor, por muita desmotivação, por muito desprazer e isso vai lentificando a participação das pessoas, vai anestesiando o desejo por mais vida em toda a sua amplitude. Neste contexto marcado pela dor, encontra-se o GAS disposto à servir e a contribuir no resgate da fé cidadã. A partir desta ótica, pode-se arriscar a dizer - com muita esperança - que "vemos uma trilha clara pro Brasil apesar da dor." O GAS tem procurado caminhar junto com as/os moradoras/es no seu tempo, ouvindo as demandas e, a partir disso, vai colocando sinais de esperança. O GAS tem consciência de que o processo de transformação é bastante lento, mas mesmo assim quer lutar para que o direito à vida seja preservado. O engajamento de voluntárias/os da Comunidade Luterana de Florianópolis é grande, mas o trabalho vai acontecendo à medida que as necessidades vão aparecendo. Nestes quase 8 meses de inserção no morro, temos feito visitas domiciliares, conversas na rua, acompanhamento bíblico e pedagógico na creche domiciliar, diversos programas com as crianças da creche, feira de roupa usada, participação no fórum de educação da escola Padre Anchieta (escola onde as crianças do morro estudam), oficina de teatro popular com adolescentes. Além disso, buscamos diálogo com a comissão de moradores do morro para fazermos um trabalho integrado. No momento a comissão está desarticulada, mas dentro do possível queremos sempre ter um canal aberto de diálogo.

Nas visitas feitas, percebemos que há interesse das mulheres e de meninas adolescentes de formar um grupo de reflexão e trabalhos manuais. Estes grupos não iniciaram ainda, pois não dispomos de um centro comunitário para reunir as pessoas. Nas casas é impossível fazer reuniões, pois os espaços são ínfimos. No momento estamos à procura de uma casa para comprarmos. Com a casa vai ser possível realizar muitas atividades e também será uma referência para as pessoas. Nesta direção, podemos dizer que lá as pessoas terão lugar. Um outro grupo que poderá surgir é de estudos bíblicos numa leitura popular da bíblia. A maioria das pessoas é de origem católica com tradição em grupos de novena. Em conversas que tivemos, algumas pessoas mostraram interesse em formar um grupo de estudos. Com o tempo o trabalho vai aumentando e criando corpo. Neste processo é importante que a Comunidade Luterana continue apoiando o trabalho e que o engajamento de voluntárias/os permaneça. É salutar que o GAS busque parcerias com outros grupos/instituições. Lentamente estamos estreitando laços com a universidade. Dentro desse processo de atuação diaconal, tem sido salutar contar com o apoio financeiro da IECLB através do Fundo de Pequenos Projetos. Neste primeiro momento é isto que estamos fazendo. Sentimos que o trabalho do GAS foi bem aceito pelas pessoas, temos passagem livre pelo morro. Isto é um sinal de que podemos prosseguir. Temos vivenciado muitas coisas boas e bonitas que é impossível descrever com palavras. No relatório estão as propostas e os grupos de trabalho, mas as experiências, os aprendizados, o olhar, a alegria, a tristeza é só vivendo, só sentindo. A solidariedade e a cooperação de muitas pessoas e entre pessoas, torna possível o projeto do GAS.