A OVELHA PERDIDA
Trindade, 14/10/2001
Lc 15.1-7 (8-10)
Você gosta de uma boa festa?
Eu amo... Gosto demais de estar celebrando, junto com outras pessoas, em torno de uma boa comunhão de mesa...
A Bíblia fala de muitas festas, e nós vamos olhar para um capítulo que fala de três festas de grande alegria para Deus...
Infelizmente, o individualismo “privatista” de nosso tempo retirou de nós a alegria da comunhão à mesa.
Já não nos conhecemos além da mesa do restaurante.
Nossa comunhão se torna cada vez mais frágil, fria e distante!

Hoje, nós vamos dar uma olhada para dentro do CORAÇÃO DE DEUS. Lucas 15 é um capítulo que, mais do que qualquer outro, nos fala da essência e da profundidade do SER de Deus, e do amor que Ele tem por suas criaturas.
Abram suas Bíblias e vamos ler juntos o texto de Lucas 15.1-7
Aqui a pergunta central é:
Quem nós podemos e devemos receber entre nós?
 QUEM TEM LUGAR NA MESA DO REINO DE DEUS?
 QUEM DEVE TER ACESSO AO SEU AMOR?
 E a resposta é: qualquer pessoa, sem distinção!
 

Jesus defende a sua associação com estes pecadores, pelo que ele é muito criticado por toda a turma religiosa...


Como entender isto à luz do SALMO 1, onde o povo de Deus é aconselhado a não se assentar na roda dos escarnecedores?
De fato, a comunhão de mesa tinha e, de certa forma ainda tem, um significado muito profundo.
Convidar alguém para uma refeição é uma honra, especialmente na cultura oriental. É uma oferta de paz, confiança, fraternidade
e perdão. Ou seja, é o mesmo que compartilhar a própria vida!
 

Como Igreja, não é essa a nossa tarefa:  a de compartilhar as nossas vidas?
- Não se trata aqui só de alimentar os pecadores, mas de comer com eles. De estar com eles e ao lado deles, sem se tornar num deles...
- Mais grave ainda do que comer com os pecadores, era recebê-los em sua casa... Pois o hospedeiro deveria receber honra de quem é hospedado.
E os pecadores entravam e saíam da casa de Jesus...
  - Porém, ao sentar à mesa com os pecadores, mais do que comer, Jesus dava uma mensagem:  apresentava o evangelho... mostrava o amor Redentor de Deus que inclui e chama os pecadores para a comunidade da salvação, para o seu Reino escatológico.

Duas coisas precisam estar claras aqui:

a) Quem é PECADOR diante de Deus?
Para o fariseu, “pecador” é o outro! Ele podia ser tanto uma pessoal imoral que não observava a lei, quanto uma pessoa que ocupasse uma profissão daquelas proscritas, como a de pastor de ovelhas, ou de um cobrador de impostos.
Já para Deus todos são pecadores, pois “não há justo, nem sequer um” (Rm 3.10-11), e “todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Rm 3.23).

b) Qual é a TAREFA da Igreja, dos salvos?
“... eles não são do mundo, como Eu também não sou! Não peço que os tires do mundo, mas que os guardes do mal. Santifica-os na verdade... assim como tu me enviaste ao mundo, Eu também os enviei ao mundo” (Jo 17.14-18)
Resposta:  estar no mundo sem ser do mundo!

A diferença que precisamos entender é a de que existem pecadores justificados pela graça de Deus, santificados pela fé em Jesus, e pecadores que ainda não conhecem a graça e o amor de Deus...
Mas, por ser Deus quem justifica, e a salvação não ser obra ou mérito humano, é que não há motivo para alguém se achar melhor que o outro...
- Jesus, por causa da hipocrisia dos que se achavam melhores por seus méritos ou obras, se dirige aos fariseus como pastores, o que já era uma ofensa por si só.
- Porém, eles não se julgavam os guias espirituais da nação?
 


1) O amor gracioso que não se acomoda com as 99, mas busca aquela uma que está perdida, e não se cansa nesta busca!
A cruz é a profunda marca do amor de Deus pelo pecador, que vai até as últimas conseqüências;
    A prioridade de Deus está em, guardadas as que estão em casa, buscar aquela que perdeu o rumo, e não consegue voltar para casa!!!
É fácil pensar:  ah! Mas já somos 99, e estamos tão bem, por que sair de casa em busca dessa uma??? E se esta uma fosse justamente seu filho ou sua filha?
Será que você resmungaria se achasse  seu filho ferido e desamparado, e tivesse que carregá-lo nos braços até em casa?
A idéia de que Deus busca ativamente, incansavelmente pela ovelha perdida é nova. Ele não só espera o pecador arrependido de braços abertos, como vai em busca dele... e para isto espera poder usar a cada um de nós!
É o compartilhar da volta – metánoia – de um pecador que provoca a festa e alegria contagiante da aldeia, dos que aguardavam a volta do pastor....
A igreja também deveria festejar mais este reencontro, do que o permanente reencontrar-se dos que já estão em casa!

A graça de Deus é tão imensa e radical, que ela ultrapassa totalmente nossos parâmetros, e faz com que o “pior” dos pecadores – como se tal existisse, também seja seu alvo!
O pastor era bastante rico, pois só os que tinham muitas posses poderiam chegar a ter um rebanho de 100 ovelhas.
O valor de uma vida que pode ser salva compensa qualquer esforço e sacrifício.

É lamentável que, no fundo, grande parte da Igreja seja marcada pelo espírito deste mundo, que diz que para merecer algo, você tem que ser bom, tem que ter méritos.
Deus diz que para merecer o LAR, apenas temos que nos arrepender e crer nele. Jamais poderemos fazer o suficiente para merecer o amor de Deus.
A salvação é sempre um DOM. É presente imerecido.
Já que eu o recebi sem merecer, como me furtaria de estendê-lo a outros que, como eu, também não o merecem?

2) A busca tem seu preço e a restauração também...
Carregamos os fracos sobre os ombros... sem levar o fardo não há restauração.

Uma ovelha perdida se perde mesmo! Ela ficará deitada, desamparada, e irá recusar qualquer movimento. Ela não se mexe! (A IGREJA DEVE IR ATÉ ELA, E NÃO ESPERAR QUE ELA VENHA ATÉ A IGREJA...)
Assim, o pastor será obrigado a carregá-la, por um bom trecho!
Surpreendentemente, ela se regozija com este fardo! O fardo da restauração traz um profundo regozijo!
A caminhada da restauração, que se inicia com o regozijo por encontrar a ovelha, até a plenitude de colocá-la em pé, em meio ao rebanho, leva ao clímax do poema!
Assim como a perda é comunitária, a restauração também é!
A alegria também não se dá só com o retorno da ovelha, mas também com a volta do pastor, são e salvo dos perigos do deserto!

3) A alegria de achar o que fora perdido; receber os pecadores e promover a sua restauração comunitária e salvífica é o bem mais precioso da Igreja;
A salvação de um só causa estrondo de alegria nos céus... No aramaico, há um paralelismo poético entre “um” hadh e “alegria” hedhwa.  O ponto central é a alegria.
O clímax é a alegria da restauração...
Perder uma ovelha,  era uma grande perda. Toda a família se entristecia quando uma se perdia.
Já o pastor da parábola se alegra duplamente: primeiro quando encontra a ovelha e segundo, quando vê a alegria da família ao reencontrar-se com a ovelha perdida.

Pode haver alegria maior do que alguém ser achado, buscado, restaurado, e passar a reconhecer seu nome como inscrito no livro da vida?
A alegria com a conversão e a volta ao lar e um dos bens mais preciosos da Igreja...
Será que a falta dela é o motivo de haver tão pouca alegria entre nós?
Por que há grandes festas nos céus, e tamanha quietude na terra?

4) O arrependimento toca diretamente o coração de Deus!
Quem precisa dele?
- tanto os 99 justos...
- quanto o pecador que se perdeu!!!
- Estar em casa não me isenta de arrependimento!
- Quem busca é o pastor...  E Ele faz grande festa ao encontrar!!!
- A ovelha é encontrada ao arrepender-se...

Lc 13.3, Isaías 53.6

Aqui tratamos de dois conceitos importantes:
a) que existem os perdidos
b) que existem os que foram encontrados...

O que diferencia estas pessoas?
Todos precisam de transformação, de salvação...
Os que já a encontraram têm o  compromisso de não se furtar à alcançá-la misericordiosamente a quem ainda não a encontrou!!!
Quem já recebeu um novo coração, uma nova vida, não pode assistir passivamente a alienação e o sofrimento de quem ainda não encontrou o caminho de volta para a casa do PAI.
Os que ainda não aceitaram o convite e a oferta de Cristo, são chamados ao arrependimento e a fé no Deus único e verdadeiro...
A salvação é total, integral, e completa.  NÃO É SÓ DA ALMA, é transformação do coração, da mente, dos valores que dirigem a vida, é transformação do corpo e do espírito...
Ela faz surgir um novo SER, moldado e guiado pelo Espírito de Deus (2 Cor 5.17).

Interessante é que o capítulo 14 termina com um convite de Jesus que diz:  “quem tem ouvidos para ouvir ouça”, e o capítulo 15 inicia mostrando que são publicanos e pecadores que se dispõe a ouvir, enquanto que os “justos”, entendem que já não precisam mais ouvir, seus pressupostos e paradigmas impedem que eles se importem com o que está sendo dito.
Exemplo: contar a história das ovelhas que só reconhecem a voz de seu pastor , quando ele as chama....

1. Ovelhas reconhecem a voz do seu Pastor:
 Um turista relatou como ele, viajando pelo Oriente Médio, um dia chegou a um poço de água, onde pastores estavam saciando a sede dos seus rebanhos de ovelhas. Seu desejo era o de tirar algumas fotografias daquele belo quadro. Lá se encontraram três rebanhos, que eram pastoreados por três distintos pastores. Numa grande balbúrdia e confusão, aquelas ovelhas pulavam e se empurravam, para alcançar a água. Enquanto observava aquelas ovelhas aparentemente iguais se misturando umas com as outras, se empurrando e engalfinhando em busca de água fresca, ele ficou se perguntando como que estes três pastores conseguiriam novamente separar seus rebanhos, e reconhecer quais eram as suas ovelhas. Depois de um bom tempo, saciadas e restabelecidas, um dos pastores se ergueu, tomou seu cajado e berrou:  men-ah  (que quer dizer: sigam-me). Imediatamente seu rebanho se pôs de pé, e se alinhou atrás dele para irem adiante. Em seguida um segundo pastor fez a mesma coisa. Ao seu chamado:  men-ah (sigam-me), seu rebanho prontamente se ergueu e o seguiu. Maravilhado com aquilo, ele perguntou ao terceiro pastor que ainda lá permanecia, se as suas ovelhas seguiriam ao comendo dele, turista, ao comando do men-ah!  Experimente-o você mesmo lhe respondeu o pastor. Então ele chamou: Men-ah, men-ah!  Aqueles ovelhas ergueram a cabeça, olharam para ele, mas nem uma sequer se ergueu e se mexeu do seu lugar. Então ele perguntou ao pastor: mas, elas nunca seguem outro pastor? Nunca, respondeu ele. No máximo alguma que esteja doente, senão jamais seguirão outra voz de comando.
 Temos que saber reconhecer a voz do Bom Pastor, para não nos enganarmos, seguindo outra vozes que procuram nos seduzir e enganar!
 
 

Muitos há que, a nossa volta, clamam, cansados e exaustos, por achar um porto seguro, um chão firme para seus pés!
- Ovelhas confusas, temerosas, aflitas e exaustas...
- Por que se afastaram do rebanho?  Geralmente nem elas sabem, nem perceberam...
- Geralmente também tem dificuldades em reconhecer que estão perdidas, desviadas e sem rumo. Geralmente estão arrumadinhas, bonitinhas, mas quando pegaram o avião ou o ônibus, erraram o destino e foram no rumo contrário.
- Compreender a alegria de Deus ao encontrar a ovelha perdida é olhar para dentro do seu coração!
- Sua atitude nunca me autorizará a condenar o pecador e o mundo perdido, enquanto me regozijo na salvação que encontrei. Mas, enquanto um único estiver perdido, meu coração deverá, como o coração de Deus, se condoer com ele, e eu tentarei buscá-lo, até poder encontrá-lo. Devo olhar sua miséria com misericórdia, e não xingá-lo e condená-lo por sua atitude para com a vida e para com Deus!
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